O órgão sofre alterações ao longo do dia. Mas a ciência séria se recusa a criar uma agenda fixa para todos nós
por Denise Dalla Colletta Aposto que você já leu reportagens dizendo qual é o melhor horário para acordar, comer, pensar, fazer exercícios e até sexo. Mas será que o cérebro opera assim como um relógio? E mais, as pessoas seriam tão iguais a ponto de compartilharem os mesmos ciclos? "O funcionamento do cérebro sofre flutuações [ao longo do dia]. As mais evidentes são acordar e adormecer", explica o neurocientista Fernando Louzada. Durante o sono, temos ciclos bem claros que duram 90 minutos, nos quais as diferenças na atividade cerebral podem ser medidas. "Existem evidências de que essa flutuação ocorra também durante a vigília, temos momentos de maior e menor atenção durante o dia, semelhante ao sono, mas de forma mais sutil. Podemos não perceber porque somos bombardeados por estímulos que interferem na atenção".O cérebro tenta sincronizar seus ciclos com as 24 horas do dia. Mas saiba que dormir, acordar e até a liberação de hormônios são atividades influenciadas principalmente pela luminosidade, ingestão alimentar e atividade física, independente do horário.
Quanto aos horários fixos, pesquisadores de cronobiologia, área que estuda os ritmos do corpo, não generalizam e dizem que não existem faixas de horário melhores para alguma atividade. "É uma grande bobagem, pode valer para a média, mas esquecemos que ninguém é a média. Transformar média em norma é um grande equivoco", diz Louzada. Um dos focos desse campo de pesquisa é justamente descobrir as diferenças individuais nesses ciclos.
Apesar de ser impossível dizer que há horário certo para fazer cada coisa, o ser humano é uma espécie diurna. "Noite e madrugada não são propícias para provas e competições, tarefas que exigem o máximo do organismo. O melhor desempenho físico, em geral, é atingido entre 16h e 20h", diz Louzada.
Os ciclos variam em cada pessoa e também de acordo com a idade. "Como bebês, dormimos muito. Depois, passamos a dormir um pouco menos e apenas durante a noite; como adolescentes, atrasamos nossos horários de dormir e acordar", explica Luiz Menna-Barreto, livre-docente em cronobiologia. De acordo com o especialista, para descobrir seu ritmo é necessário auto-conhecimento, observação e avaliação de como a pessoa se sente ao realizar suas atividades em horários diferentes. "A resposta está nos indivíduos. Convença um poeta que cria seus poemas nas horas ditas mortas da noite a escrever às 7h ou 8h da manhã. Provavelmente não vai sair nada que preste".