OS FILHOS DAS RUAS |
Escrito por Oman Carneiro |
Sex, 13 de Maio de 2011 19:21 |
![]() Eu costumo usar uma expressão que hoje define muito bem a situação da criança no Brasil: “São muitos filhos para poucos pais.” Se de um lado, os pais não estão mais cumprindo o dever de proteger, educar e estabelecer a dignidade aos filhos no seio da família, por outro lado, nem os governantes e nem os órgãos de proteção à criança estão exercendo o seu papel. A violação dos direitos da criança está ao alcance dos nossos olhos, em qualquer hora e lugar. Aqui perto de nós, sobralenses, nos bairros, na periferia, no Centro da Cidade, próximo à Sede do Conselho Tutelar, no Beco do Cotovelo, nas proximidades dos restaurantes, lanchonetes e Mercado Público, na calçada do Hospital da Unimed, nas adjacências do Hospital Santa Casa - à luz do dia – não é difícil encontrarmos crianças jogadas na rua, cheirando cola, deixando de frequentar uma Escola, sem a mínima orientação do verdadeiro sentido da vida e do que lhes seja melhor para o futuro. No compromisso com a infância, o Brasil está muito atrasado, tanto pela falta de medidas, quanto pela apresentação dos seus relatórios ao Comitê dos Direitos da Criança da ONU em Genebra, na Suiça, os quais não nem sempre têm sido pontuais ou precisos. Mas os números do descaso constam em exatidão nos mais diversos bancos de dados: o relatório emitido pela Fundação Abrinq – Save the Children confirma: 1,8 milhões de crianças entre 7 e 14 anos ainda precisam aprender a ler e a escrever e 5% dos adolescentes entre 15 e 17 anos estão fora do ensino médio. O Mapa da Violência 2011 diz: a maior taxa de homicídios no Brasil - 64% - ocorre entre adolescentes e jovens. O Censo 2010, divulgado recentemente pelo IBGE traduz o aumento de crianças e jovens na rua, dentre estas, 30,4% são usuárias do álcool ou das drogas; 70% de todas as crianças que vagam pelas ruas, sofreram violência dentro de casa e 8,8% confirmaram terem sido abusadas sexualmente. Somam-se 132.033 domicílios chefiados, sustentatos por crianças entre 10 e 14 anos. O próprio estudo feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também alerta: 38% dos jovens em situação de pobreza compõem o grupo etário mais vunerável ao desemprego e à violência; entre 1998 e 2008 registraram-se 28 mil partos por mães com idade entre 10 e 14 anos - a maioria, por abuso no lar e pela exploração sexual comercial - fatores que ocasionaram o abandono à escola e o afastamento da casa dos pais. Temos, assim, por fatos e dados, a constatação de que a violação desses direitos tem sido comum prática da negligência das famílias e dos poderes que integram a esfera governamental. Lar e Escola deixaram de ser as referências dos mais seguros abrigos para uma criança se desenvolver de forma saudável e com a percepção dos valores humanos e sociais. ![]() |